25.11.23

O QUE É ARTE PARA VOCÊ?



- Tais Luso de Carvalho


Quando me deparo com uma obra de arte, vejo seu lado estético, sua linguagem e a mensagem que está inserida nessa obra. Vejo suas cores e seus traços.

Admiro obras que retratam a nossa história, o nosso cotidiano, as injustiças sociais, a brutalidade e a miséria. Cumprem, aí, a sua mais nobre missão: a de retratar os fatos, de protestar e de clamar por mudanças. Através da arte o artista manifesta suas próprias emoções, que não deixam de ter seu lado belo.

Também vejo a Arte que alegra o espírito e prima pela beleza: são as paisagens, cenas de bar, marinhas, festas, flores, retratos, cenas familiares. Ou outras imagens que levam paz, como a arte Sacra, por exemplo. Tudo entre belas e coloridas nuances.

Através da arte a humanidade relatou sua história. O homem deixou suas pinturas nas cavernas, importantes para o estudo da nossa espécie.

Gostar de uma obra é um sentimento pessoal, e depende da sensibilidade de cada um. Não são todos que gostam do Barroco, do Romantismo, Cubismo, Realismo, Impressionismo, Surrealismo, Pop Arte. E o artista é aquele ser especial dotado de técnica, de espírito crítico, de criatividade.

Mas o triste é o que se vê em algumas exposições ou em Bienais:

Uma porção de tijolos empilhados: é arte. Tocos de madeira cercados de arame, é arte. Uma montanha de pneus acompanhados de uma placa qualquer: é arte. Paralelepípedos colocados em sequência, é arte. Palitos de fósforos colados numa placa, é arte. E o sofrimento de animais, com fome, numa exposição, será arte? Pois é, aplaudir o sofrimento em nome da arte! Então fica difícil de entender e de captar certas mensagens. Fica difícil rotular isso de arte.

Vejo arte em vários museus, galerias, residências, oficinas e igrejas. Vejo obras dos grandes mestres, de todas as épocas, de todos os movimentos e depois dou de cara com algumas coisas inéditas e que minha sensibilidade tem de se amoldar rapidamente. Impossível.

Não tem como eu achar que uma tripa de ferro velho é um avião, e que as asas ficam para minha imaginação. A proposta para que o observador solte sua imaginação, deve, ao menos, partir de um princípio: dar um indício para poder se chegar a algum ponto.

E a liberdade, de gostar ou não da obra, é um direito indiscutível de quem a vê.
Arte, para mim, é quando ela tem a capacidade de emocionar ou quando dá prazer em olhar e descobrir detalhes, técnica e transmitir alguma mensagem dentro de uma lógica. Enfim, ver uma obra inteligente.

E quem quer interagir precisa ser um pouco mais claro. É a lógica que se espera. Essa comunicação existe desde a antiguidade, existe na pintura clássica, moderna, contemporânea, enfim. Em todas os períodos e movimentos.

A arte tem de ser uma manifestação democrática. Mas não é por ser democrática que pode exceder limites.  Cabe aos que a veem, compartilhar ou não; gostar ou não.

Temos de expressar - sem medo - nosso gosto, como fazemos em diversas outras artes. Por que é aceitável não gostar de uma obra literária, de jazz, de música clássica... e o mesmo não se dá com a Arte em si?

Por que 'o não gostar de uma obra de Arte ou de um Movimento' torna-se quase uma agressão e gera discussões intermináveis? Há algo de errado; há uma paixão acima da razão. E fica difícil quando alguém é dominado pelo medo e pelo constrangimento.

Portanto, é direito legítimo de cada um manifestar-se contra ou a favor;  gostar ou não gostar.