26.10.12

LEONARDO DA VINCI



- Tais Luso de Carvalho

Um dos mais versáteis artistas de todos os tempos: Leonardo da Vinci, o grande gênio do Renascimento (matéria nesse blog), fez por merecer esse título. Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro de guerra, engenheiro hidráulico foi também um apaixonado pela gastronomia.

Nasceu no pequeno vilarejo de Vinci, perto de Florença, em 15 de abril de 1452. Leonardo formaria juntamente com Rafael e Michelangelo, o tripé do movimento renascentista.

Filho ilegítimo de um proprietário rural Ser Piero, membro de ilustre família florentina e da camponesa Catarine. Adotou 'Da Vinci' como sobrenome, numa referência à cidade onde nasceu. Da Vinci foi abandonado pela mãe Caterine – e ficou aos cuidados do pai que não reconhecera o filho bastardo. Mesmo tendo recebido o auxílio paterno, não foi reconhecido e nunca pôde usar o sobrenome da família.

Aos 14 anos Da Vinci, com grande inclinação para as artes, foi encaminhado ao atelier de Andrea Verrocchio, escultor, pintor e ourives. Aos 20 anos, Da Vinci conquistou a posição de pupilo-mor do artista e logo entrou para a Corporação dos Pintores de Florença, como mestre.

Em 1476, com 24 anos, uma desagradável denúncia abalou o artista: uma acusação anônima de homossexualismo (crime, na época) ,mas, foi arquivada por falta de provas. O incidente aumentou ainda mais sua solidão, embora em 1470 já era admirado por intelectuais e artistas.

Em meados de 1482 mudou-se para Milão em busca de novas perspectivas. A partir de 1499, com a invasão do exército francês, no norte da Itália, deixou Milão e passou algum tempo em Veneza. Florença, Milão, e Roma. Em 1516 foi convidado pelo soberano francês Francisco I a viver no Castelo de Cloux em Amboise - na França.

A Última Ceia 1497 (acima)  uma das obras mais apreciadas do mundo apesar da deterioração. Essa obra já bastaria para colocá-lo na lista como um dos maiores mestres da pintura de todos os tempos. Quando recebeu a encomenda da Igreja de Santa Maria Delle Grazie, que desejava um imenso mural, Da Vinci decidiu tentar uma técnica nova. Em vez de usar o afresco – aplicada a cor diretamente sobre a argamassa úmida -, preferiu usar óleo sobre uma superfície seca. O resultado técnico foi desastroso. A pintura foi restaurada diversas vezes e hoje está muito longe do original idealizado pelo artista. Mesmo assim sua força é enorme. Ao mostrar o momento em que Cristo anuncia a traição de um de seus discípulos, Da Vinci capta as reações psicológicas dos doze apóstolos.



Mona Lisa 1505 – a expressão máxima da popularização em escala mundial de uma obra de arte. Certamente é o retrato mais comentado de todos os tempos: a pose é incomum; a expressão é indecifrável; e o sorriso enigmático. Lisa Gherardini, mulher de um grande mercador, tinha 25 anos quando o quadro começou a ser pintado. Sua pose é nobre e altiva apesar da vestimenta ser simples para uma mulher de homem rico. A sua técnica, o sfumatto, é utilizada em seu rosto com cores adocicadas, indefinidas, sem contornos, sem precisões. Ao redor dos olhos e da boca de Mona Lisa o instinto se desfaz em suaves sombreados, esfumando-se. Por isso nunca saberemos seu estado de espírito: santa ou pecadora? Triste ou alegre? Quinhentos anos depois, o sorriso de Gioconda ainda intriga o mundo!

Resumindo, a técnica de sfumatto ( de Leonardo)  suaviza a rigidez e a realidade aparece como que amortecida, o que provoca diversos sentimentos no observador. Os contornos menos pronunciados, as demarcações tornam-se suaves, criam uma atmosfera de representação pictórica livre: o dia e a noite, o claro e o escuro tornam-se componentes importantes da obra.



Dama com um Arminho 1490 – é provável que a modelo tenha sido Cecília Gallerani, considerada uma das amantes do duque Ludovico Sforza, governante de Milão na época. Cecília era uma mulher famosa e admirada. Vinha de boa família, falava latim, escrevia poemas e cantava. Pelos traços vê-se sua determinação, de boca fechada com um sorriso apenas esboçado num rosto de expressão enérgico. O quadro muito original não só pela pose, mas pela inclusão de um animal não muito dócil – que faz um contraponto à serenidade de Cecília.




Sant'Ana a Virgem e o Menino 1510 – apesar de não ser o trabalho mais famoso de Da Vinci, seria mesmo assim sua obra predileta, que foi um tanto original em sua composição. A simplicidade das figuras ganha riqueza com os movimentos, somando-se com a técnica do sfumatto – na qual a passagem de um tom para o outro é suave. Nessa obra o amor materno é mostrado de maneira sutil e convincente.




Anunciação - Com seu rosto suave e os cabelos soltos a Virgem encarna o doce ideal de beleza de Da Vinci. O desenho exato e uma suave gradação das cores como forma de representar fisionomias delicadas, são características dos retratos da época, e que exprimem a tentativa de representar o interior, a alma, por meio de uma expressão física exterior.

A vida e obra de Leonardo Da Vinci retrataram a evolução de seu pensamento. Muitas obras de Da Vinci estão perdidas, ele não as assinava. Sua produção sempre teve a marca da qualidade, mesmo no início. Era incontestável a facilidade que tinha em lidar com o desenho. Seus estudos pictóricos dão expressividade aos rostos.

No seu auto-retrato (1513), com 61 anos, se mostrava-se amargurado. Foi um gênio incontestável, reconhecido em vida por onde passava, onde viveu e trabalhou. Só não foi unanimidade nas diversas áreas em que atuou porque tinha a fama de deixar obras inacabadas. Ao se referir a essa característica de Da Vinci, o Papa Leão X disse:

'Da Vinci gosta mais do caminho que da chegada, mais do processo que do resultado'.

O INVENTOR E DESENHISTA

Da Vinci foi um artista e um grande inventor. Seus desenhos continuam ainda hoje, um grande patrimônio histórico. Essa herança para a humanidade contém 7.700 páginas. Nas suas famosas anotações científicas há centenas de ilustrações de projetos nas mais diversas áreas: da hidráulica à cosmologia, da astronomia à geologia, passando também pela paleontologia, mecânica, geografia, gastronomia, música e também audaciosos projetos de engenharia.

Leonardo foi o primeiro no estudo da anatomia, procurando traduzir através de desenhos detalhados do corpo humano. Quase todos os artistas renascentistas fizeram estudos de mãos. Leonardo, no entanto, baseou seus esboços em observações dos ossos, músculos, nervos, e veias. Grandes deformidades intrigavam-no tanto quanto a beleza.

Conta-se que uma vez ele embebedou um grupo de camponeses afim de poder fazer esboços sobre a repentina bestialidade de suas faces. Suas caricaturas de gente velha refletem um interesse de pesquisador pela avançada idade. Assim foi Leonardo que produziu os mais belos e exatos estudos anatômicos de sua época. Dissecou mais de 30 cadáveres - até que o Papa Leão X o proibiu de entrar no mortuário de Roma.

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Velho e abatido, com a mão direita parcialmente paralisada, o artista que era canhoto, escreveu sem cessar. Morreu em 2 de maio de 1519, aos 67 anos. Ao seu lado estava apenas o companheiro dos tempos de Milão, Melzi, responsável pela propagação de seus manuscritos que, mais tarde comporiam o 'Tratado sobre a Pintura'.

'Ele acordou muito cedo, enquanto todos dormiam'. 
(Sigmund Freud)


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Fontes:
História da Pintura - Könemann
Grandes Pintores / P. Derengosky
pinacoteca ed. caras 1998